São José: Missão num Silêncio que fala!

São José: Missão num Silêncio que fala!

A celebração da Solenidade de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria e Padroeiro Universal da Igreja, nos leva contemplá-lo à altura de sua grandeza na história da salvação, participando efetivamente dos acontecimentos em torno do mistério da encarnação do Filho de Deus. E esse evento litúrgico toca de modo especial a nós, Joseleitos de Cristo, por tê-lo como nosso patrono e inspiração na vivência do carisma herdado do nosso Fundador, o Servo de Deus Pe. José Gumercindo.  A figura desse santo nos coloca diante de uma luminosidade incomum presente na humildade, simplicidade e obediência, cultivadas por ele em edificante silêncio, brilhando como um exemplo a ser seguido por cada um que deseja viver bem a vocação e a missão recebida de Deus.

Para refletir sobre a  humildade de José, consideremos antes seu sentido e como ele a viveu. A palavra humildade, em sua origem, indica por um lado estar numa situação de pouca elevação, sem que por outro haja a ideia de rebaixamento. Então ser humilde é buscar viver segundo a dignidade do ser humano, mas sem se sentir maior nem menor em relação aos demais. Nessa condição vemos José. Ele, por certo, não se viu diminuído porque lhe fora tirado um sonho de realização à semelhança de outros homens de seu tempo, nem tampouco o maior porque em algum tempo se descobriria que teria sido privilegiado por cuidar como pai do próprio Filho de Deus, o Messias, junto à sua Mãe, Maria, ao lado da qual fora posto como esposo. Nesse contexto é que se firma sua imagem de homem justo e humilde. Os estudiosos nos dão conta de que, pela fé, ele teria tomado conhecimento do mistério da Encarnação. Sente-se indigno de ocupar o lugar em que se encontra, por isso pensa em se afastar. Porém, mediante o anjo,  Deus  lhe faz ver que fora escolhido exatamente para essa missão. Daí ele obedece e age conforme a ordem recebida. (SILVA, Marcionei M. da, em José no Mistério da Encarnação, 2010, p. 84-95).

Gozando dessa proximidade com Deus, seria possível imaginar que sua tarefa fora relativamente facilitada. Mas, não.  Afinal, ele foi envolvido num mistério e, como tal, impossível de ser plenamente compreendido. Deus o socorreu através do seu mensageiro sem eliminar seus limites humanos. Ele, decerto, dedicou-se em profundo silêncio à reflexão e à oração antes de dizer ‘sim’ à missão que lhe era destinada. Isso lhe deve ter custado grande esforço e sacrifício. Haja vista seus movimentos de angústia e incertezas até que o anjo do Senhor lhe indicasse como deveria proceder (Mt 1, 18-24). Isso mostra que Deus fala através das circunstancias que envolvem seus escolhidos, sendo necessário que se submetam a cuidadosos discernimentos. E por fim, que prevaleça a claridade da fé, numa humilde escuta de Deus. E só assim é possível ao escolhido aceitar estar onde Deus o coloca, para seu próprio bem e de muitos alcançados por seu sagrado serviço,

Estreitamente ligada à humildade está a simplicidade. Simples é o que não está envolto em complicações. Refere-se a uma realidade clara, isenta de obscuridade.   Em se tratando de pessoas, pode-se afirmar que essa virtude   favorece superar a tentação da artificialidade, que pode descambar para a falta de autenticidade e construção de  imagens pessoais de acordo com conveniências ilegítimas. À luz da fé, uma  pessoa simples caminha impulsionada pelo amor sem se prender artificialmente a modelos rígidos. (cf. LIAGRE, em Retiro com Santa Teresinha do Menino Jesus, 2003, p.95) Ela é espontânea, plenamente humana, aproximando-se de modo natural de Deus, de quem é essencialmente imagem e semelhança.

São José é o justo que se se entrega humildemente nas mãos de Deus e, com a docilidade    de quem vive da fé, escuta-o cumprindo sua santa  vontade. Assim ele se mostra um servo obediente, aquele que realiza o que lhe compete deixando-se guiar pelo que lhe diz o  anjo, dando provas de sua incondicional confiança no que vem de Deus. Com ele aprendemos que obedecer pode comportar desafios, mas não será como um fardo  que se suporta  por   mero dever, mas dom inerente à missão que se acolhe e cultiva no silêncio do coração.  Nele, silenciar não é mudez por não ter o que dizer ou por receio de revelar o que não deveria, porém, expressão de densidade de um coração tomado por efetiva presença de Deus. Importa destacar isso num momento em que  se propaga o barulho até como necessário para relaxamento. Pura ilusão!

Retomando então São José como referência para uma espiritualidade em que de modo claro haja uma sintonia entre a escuta de Deus e a atuação do ser humano como protagonista da história, vale destacar que “O silêncio de São José não manifesta um vazio interior”, mas,… plenitude de fé… que orienta seus pensamentos e suas ações. Assim, em comunhão com Maria, “conserva a Palavra de Deus, conhecida nas Sagradas Escrituras, comparando-a com os acontecimentos da vida de Jesus; um silêncio impregnado de oração… de bênção do Senhor, de adoração da sua santa vontade e de confiança sem reservas na sua providência… Deixemo-nos ‘contagiar’ pelo silêncio de São José! Temos necessidade disso, num mundo demasiado ruidoso, que não favorece o recolhimento, nem a escuta da voz de Deus” (Bento XVI, Angelus, 18/12/2005, apud GASQUES, Jerônimo, São José, o Lírio de Deus, 2019, p.14).

Numa conjugação entre  inspiração divina e entrega  do ser humano a uma  tarefa recebida,  contemplamos São José como um enviado de Deus, um missionário que assume seu lugar na história da salvação. Nessa perspectiva vemos de modo semelhante  outros grandes exemplos, como nosso Fundador, o Servo de Deus, Pe. José Gumercindo, um homem que também primava pelo silêncio.  “Os momentos de sossego são os melhores da vida…   A voz de Deus não vem no rodar estrepitoso dos carros de guerra nem no pandemônio das músicas de festa, mas na aragem da brisa suave… Vive sempre em silêncio para ouvires a voz de Deus”  (SANTOS, José Gumercindo, em Para Boi Dormir, 48). Ele era o homem da intimidade com Deus e assim pôs-se a servir com especial predileção os pobres, presentes na frase bíblica que inspirou sua vida e missão, bem como ilumina o carisma e a missão de seus filhos e filhas espirituais: “A ti eu deixei o meu pobre, tu será uma ajuda para o órfão” (Cf. Sl 10,14).

A contemplação da figura de São José, para além da admiração por ele, provoque em cada um, segundo a própria vocação, aprofundar uma busca incessante da luz divina que anime cada eleito viver com alegria e generosidade a missão recebida.

Pe. Raimundo Ribeiro Martins, SJC (Belém, 18 de março de 2022)

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