MARIA NA MISSÃO DISCIPULAR DE SEU FILHO JESUS CRISTO

MARIA NA MISSÃO DISCIPULAR DE SEU FILHO JESUS CRISTO

“De Maria iremos a Jesus pelo seu amor[1]

A partir do horizonte bíblico, é possível compreender o quanto a mulher ganha uma tonalidade toda especial, ou seja, “a figura da mulher […] expressa a realidade da criação, e expressa a fecundidade da graça”.[2] Maria, portanto, é essa mulher que entrou na história da salvação como portadora da graça divina e assim compreende-se que o seu peregrinar na fé é fruto do seu sim ao projeto salvífico de Deus.

Refletir acerca da Santíssima Virgem é um tema peculiar à Sociedade Joseleitos de Cristo, pois no carisma herdado do seu fundador, o Servo de Deus, Pe. José Gumercindo Santos, encontra-se traços da espiritualidade mariana. Dirigindo-se aos seus filhos espirituais ele enfatiza “[…] que todos estão convencidos que sem a firme devoção a Nossa Senhora, a vida religiosa decai e o religioso que professa amor à perfeição, acaba perdendo a visão das coisas divinas […] e pouco a pouco vai sentindo fracassar o ideal que tanto amou nos primórdios de sua vida consagrada”.[3]

A fiel devoção do Pe. Gumercindo à Virgem é constatada desde sua infância, cresceu na autêntica escola mariana, se fazendo filho obediente aos desígnios de Deus. Viveu uma vida de serviço solidário, inserindo-se muitas vezes no cenário da visitação, percorrendo longas distâncias, sendo sinal de auxílio aos pobres, órfãos, viúvas, jovens e vocacionados. Contou com sua intercessão maternal na fundação das três congregações e, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, o Pe. Gumercindo era convicto de que com “Maria a nossa frente, venceremos todos os obstáculos que nos aparecerem no duro ramerrão do labutar cotidiano”.[4] Como concretização do seu amor filial à Virgem Maria, quis a providência divina que suas últimas palavras fossem dirigidas a ela, entregou sua alma ao divino redentor exclamando: “Valei-me minha Nossa Senhora! Ela a quem ele amou ternamente durante sua peregrinação terrena, certamente o conduziu ao Paraíso”.[5]

No anúncio, Maria é inserida na história da salvação como a primeira discípula, que ouviu e praticou ardentemente a palavra de Deus. A colaboração de Maria no projeto salvífico, segundo o horizonte bíblico, especialmente em Lucas, adentra num horizonte discipular, sendo a Santíssima Virgem, a primeira discípula do Senhor, temática expressa com mais profundidade na narrativa da visitação (cf. L 1, 39 – 55).  Ao aceitar a proposta de Deus por meio do anjo, “Maria se sente chamada a dar mais um passo na fé, ela vive a experiência originária do seguidor de Jesus”[6];  estar a serviço do próximo. O episódio da visitação de Maria à Isabel é motivado por uma resposta ao chamado de Deus, uma resposta que trouxe implicações para a vida de Maria, mas o ardor missionário falou mais alto e como “discípula-mãe” partiu apressadamente, e “discretamente ela já leva Jesus para os outros”[7], se coloca a serviço do próximo, representado na narrativa bíblica por Isabel, sua prima.

A visitação é representada na atualidade através daqueles que partem em missão, sendo portadores da mensagem salvífica, passando pelas regiões montanhosas do esfriamento da fé, da falta de uma catequese humanizadora, da falta de sensibilidade e cuidado para com os menos favorecidos. Compreender a visitação de Maria à santa Isabel é lançar-se no coração amoroso de Deus, sem medo e sem reservas, na certeza de que muitos lares vibrarão de alegria, ao receber a mensagem do Evangelho.

No terceiro capítulo da obra “Compêndio de Mariologia”, de Afonso Murad, é enfatizado que “os católicos dizem que Maria foi importante porque foi a mãe de Jesus. Lucas, no entanto, mostra que não está aí sua principal qualidade”.[8] Foi trilhando os passos de seu filho que Maria compreendeu as implicâncias do seu sim, foi entendendo a sua missão, na missão do Cristo.

De mãe, que trouxe o verbo encarnado, passa a ser discípula na observância dos ensinamentos do Redentor. Com sua materna e silenciosa intercessão, ela converte os corações demonstrando total atenção aos sinais. “Na vida pública de Jesus sua mãe aparece significativamente. Já no começo, quando, para as núpcias, em Caná da Galileia, movida de misericórdia, conseguiu por sua intercessão o início dos sinais de Jesus”.[9] Maria é discípula porque se coloca como aprendiz na escola messiânica do Cristo ao longo da sua peregrinação à Jerusalém. Utilizando-se da obra lucana, Afonso Murad aponta o perfil do discípulo, enquadrando a Virgem Maria nesta perspectiva discipular, quando postula que “[…] a condição de ser discípulo de Jesus: Ouvir, acolher, frutificar […] Lucas pinta os traços da figura de Maria. Mostra que ela tem exatamente as qualidades que caracterizam o seguidor de Jesus. Maria ouve a palavra de Deus com fé, guarda no coração e a põe em prática”.[10] O programa de vida de Maria se fundamenta na fidelidade abraçada desde o anúncio até a crucificação.

Caberia aqui outras reflexões, pois a compreensão da missão de Maria, no evento da salvação está para além da finitude, mas a título de conclusão, essa figura ímpar da qual a boa nova se encarnou, é, antes de tudo, discipula – missionária por excelência. O “ser discípula” de Maria se dá antes mesmo do nascimento do Cristo, consistiu na sua resposta sincera no anúncio, no abraçar sua vocação, sendo ela, portanto, inserida na história da humanidade como portadora da Graça.

Ir. Brunael Barbosa Almeida, sjc

 

REFERÊNCIAS 

BENTO XVI, Papa. A filha de Sião, a devoção mariana na Igreja. São Paulo, Paulus, 2013.

BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2019.

CONCILIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja. Paulinas: São Paulo, 1996.

OLIVEIRA, Theosete Gomes de. Do deserto à terra prometida. Traços biográficos do Pe. Gumercindo Santos, Feira de Santana: Radami, 2001

MURAD, Afonso Tadeu. Maria toda de Deus e tão humana: compêndio de mariologia. São Paulo: Paulinas; Santuário, 2012.

SANTOS, José Gumercindo. Quarenta Anos no Deserto: Memórias. Santana Artes Gráficas Ltda, Feira de Santana/BA, 1991.

SANTOS, José Gumercindo. Pedaços d’Alma: Memórias. Bahia Artes Gráficas Ltda, Feira de Santana/BA, 1981.


[1] SANTOS, José Gumercindo. Pedaços d’Alma: Memórias. Bahia Artes Gráficas Ltda, Feira de Santana/BA, 1981, p.188.

[2] RATZINGER Joseph.  A filha de Sião, a devoção mariana na Igreja. 2013, p. 21.

[3] SANTOS, José Gumercindo. Quarenta Anos no Deserto, SAGRA, Feira de Santana, 1991, p. 261.

[4] Idem, p. 261.

[5] OLIVEIRA, Theosete Gomes de. Do deserto à terra prometida. Traços biográficos do Pe. Gumercindo Santos, Feira de Santana: Radami, 2001, p.243.

[6]MURAD, Afonso Tadeu. Maria toda de Deus e tão humana: compêndio de mariologia, 2012, p.63.

[7] Ibid. P.59.

[8]Ibid. p. 53.

[9] Concilio Ecumênico Vaticano II. Constituição dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja, 1996, p. 107.

[10] MURAD, Afonso Tadeu. Maria toda de Deus e tão humana: compêndio de mariologia, 2012, p. 54.

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