Nesse 1º de maio, dia de São José Operário, senti-me impulsionado a partilhar com meus confrades, não propriamente uma reflexão sobre a memória litúrgica de São José venerado como trabalhador e patrono dos trabalhadores, mas uma palavra sobre o distintivo que nós, Joseleitos, em 2019, preparando-nos para celebrar nosso ‘jubileu de vinho’ – 70 anos de fundação – fomos motivados a carregar no peito como um sinal que lembrasse nossa identidade na Igreja, tendo São José como ícone de bondade e serviço a ser guardado no coração com piedade e devoção.
Trata-se de uma cruz, cujas linhas ou barras que a compõem são praticamente simétricas, ou seja, possuem a mesma medida. Ao centro há uma figura de São José segurando com as duas mãos o Menino Jesus, de braços abertos. Em sentido horário, escritas em latim, estão as três palavras do nosso lema: Actio (à esquerda); Reactio (à direita), Oractio, na base. Não sei se existe algum memorial descritivo do seu idealizador mostrando o que pensou ao criá-lo. Entretanto, ouso expor o que imagino possa significar.
Ouvi casualmente, sem me lembrar de quem, como se fosse um questionamento ou busca de entendimento, o que significaria São José numa cruz segurando Jesus ainda criança. Entendi que a questão estava em que a cruz, como está habitualmente em nosso imaginário, lembra Jesus, adulto, sendo sacrificado nesse instrumento de tortura e morte. Pensei então que nesse caso seria indispensável contemplar a cruz, para além de um objeto material como símbolo de dor e sofrimento associado quase exclusivamente a Jesus, fosse vista, a partir dele, também ligada a todos que por obediência e amor a Deus, abraçam exigências, provações e sacrifícios inerentes à própria vocação e missão.
Para São José, acolher a missão de ser esposo-protetor de Maria, escolhida para ser Mãe de Jesus, o Filho de Deus, do qual fora constituído pai-providente, foi uma tarefa extremamente difícil, que lhe custou a entrega de toda uma vida carregada de sonhos e projetos que tiveram de ser deixados de lado em absoluta obediência a Deus. Foi desse modo que ele participou do mistério da encarnação de Jesus, ocorrida em vista do plano divino de salvação em favor da humanidade. Sem dúvida, um grande privilégio, todavia, no momento em que recebeu do céu a comunicação de sua missão isso não lhe era claro. Foi de certo modo penoso, dolorido, uma verdadeira cruz. E pra Jesus, a cruz como expressão de esvaziamento de sua grandeza junto ao Pai no céu para vir a nós, como entrega para carregar nossa pequenez e sordidez não foi também uma realidade dolorida, sofrida desde o primeiro instante de sua encarnação?
Vejo, portanto, esse distintivo como um convite a que nós, à semelhança de São José, aceitemos nosso lugar no plano de Deus assumindo confiantemente os incômodos da nossa peleja como eleitos de Cristo em seu seguimento e serviço. Nosso Fundador, o Servo de Deus Pe. José Gumercindo, iluminado pela palavra sagrada: “a ti eu deixei o meu pobre, tu serás um socorro para o órfão” (Cf. Sl 10,14), sentiu-se impulsionado a ter braços estendido e mãos abertas para amparar em nome de Deus seu filho Jesus presente em cada criança, jovem, vocacionado ou qualquer outro que em sua pobreza de recursos ou oportunidades esperam quem expresse o cuidado de Deus, para que ele realize sua vocação de viver e se estabelecer socialmente como ser humano, cidadão, filho de Deus.
Espero, com essa pequena exposição, oferecer elementos que nos ajudem a ter um sentido e, quem sabe, um incentivo a que coloquemos no peito com consciência e alegria um pequeno sinal que contribui para nos distinguir em meio a outros seguindo os passos de Jesus sob a intercessão de São José, o patriarca sonhador.
Pe. Raimundo Ribeiro Martins, SJC
Belém, 1º de maio de 2022
Memória Litúrgica de São José Operário