A nossa fé cristã é movida pela esperança. Quanto mais celebramos os mistérios de nossa fé, mais a nossa esperança é alimentada, iluminada e expandida! Pela fé, vivemos a expectativa do encontro com o Senhor. Esse dom da esperança é celebrado de modo muito especial no Advento, o tempo litúrgico que iniciaremos a partir do próximo Domingo, 27 de novembro.
Introdução: o que o Advento?
Analisada desde o latim, a palavra Advento significa “vinda” ou “espera”. Em acordo com essa conotação linguística e teológica, o primeiro tempo do Ano Litúrgico é chamado Advento, uma vez que se propõe a ser um roteiro de caminhada rumo à celebração do Natal, reavivando a esperança da chegada do Senhor, o Juiz “que vem e que virá e não tardará” (Hb 10,37).
O tempo do Advento inicia-se nas primeiras vésperas do Domingo sequencial à Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo e concluído nas primeiras Vésperas do Natal do Senhor percorrendo um período de quatro semanas, destacando-se pela sobriedade nas celebrações, especialmente pelo silêncio. Os Domingos do Advento tem razão simbólica também no seu número quatro, indicando a totalidade do universo que “espera ansiosamente a vinda do Senhor” (Rm 8,22).
A essas peculiaridades características somam-se: escolha da cor roxa (exceto no terceiro Domingo, cuja cor é rosa), omissão do glória (exceto nas solenidades), acendimento das velas da coroa do Advento (branca, roxa, vermelha e verde), ênfase em personagens bíblicos (Maria, anjo, São João Batista, Profetas, entre outros), recorrência a símbolos específicos, tais como ramos verdes, luzes, anjos, presépio, etc.
A tradição de celebrar o Advento já é observada em Roma desde o início do século IV, como uma longa preparação para celebrar o nascimento do Salvador da humanidade e reavivar a vigilância na expectativa do Dia do Senhor, recorrendo aos textos bíblicos que apontam para o cumprimento da promessa: “eis que uma virgem conceberá e dará à luz o filho que será chamado Deus-conosco” (Is 7,14).
A Palavra de Deus no caminho do Advento
Cientes dessas informações introdutórias, consideremos agora a escolha dos textos bíblicos apropriados para as celebrações do Avento. Como sabemos, tudo tem sua origem na Palavra de Deus e sem ela, “nada foi feito”. Essa Palavra “se fez carne” e habitou entre nós (cf. Jo 1,2.14).
Didaticamente, as quatro semanas do Advento dispõem-se em dois roteiros complementares para a proclamação da Palavra. Nas duas primeiras semanas, as leituras bíblicas chamam a atenção para a “segunda vinda” do Senhor, apresentando textos bíblicos e suscitando reflexões sobre a “consumação de todas as coisas”, o “futuro em Cristo”, e a parusia.
As duas semanas seguintes concentrará o enforque no mistério da encarnação do Filho de Deus que, na plenitude dos tempos, consumou-se conforme a promessa feita aos antepassados e a espera silenciosa e perseverantes de tantos homens e mulheres que permaneceram fiéis à Lei e às profecias que indicavam o nascimento do Messias que viria para sentar-se no trono de Davi e iniciar um novo reinado de paz e justiça e esse Reino não teria fim (cf. Is 9,6).
Durante os dias feriais, ou seja, os dias das semanas subsequentes a cada um dos Domingos do Advento, os textos bíblicos seguem a tônica apresentada na liturgia da Palavra, valorizando de modo delongado o desenvolvimento da virtude da esperança cristã que se reveste de júbilo para celebrar o Natal do Senhor. Os dias feriais estão divididos em dois períodos: o primeiro percorre da segunda-feira após o primeiro Domingo do Advento até o dia 16 de dezembro e o segundo período abrange do dia 17 ao 24 de dezembro.
Os personagens do Advento, pontos de luz que refletem a esperança
À medida que os textos bíblicos são proclamados nas celebrações do Advento, alguns personagens são apresentados em sua relação com o mistério da encarnação. A apresentação desses personagens corresponde ao grande objetivo de revelar a diversidade da participação humana no plano de Deus, colaborando na simplicidade da chegada do Messias, o Salvador.
Os cenários das cidades de Nazaré, de Belém e da região próxima, embora com poucas referências, são mencionados demostrando a concretização do plano de Deus: vir habitar entre nós, despojando de sua divindade e assumindo a nossa humanidade (cf. Fl 2,6-7) para salvar-nos. Notamos, ainda, os sinais da gruta, da manjedoura, dos presentes oferecidos a Jesus, da estrela luminosa que atraiu e guiou os Reis Magos até o encontro com o Recém-nascido, etc.
Maria, a Mãe do Senhor, é a principal personagem. Nela o Verbo de Deus se fez carne! Como narra o evangelista Lucas, a pessoa de Maria é total abertura à esperança! Ela é apresentada como aquela que já está pronta para ser visitada pelo Anjo e, também, já está pronta para responder positivamente à vontade do Senhor, dizendo: eis-me aqui, sou a serva do Senhor.
Bem ao lado de Maria está aquele com o qual ela estava prometida em casamento: José, um homem justo, temente a Deus e muito trabalhador. O silêncio de São José esconde e ao mesmo tempo revela o seu estupor diante da maravilhosa missão: ser o tutor do Filho de Deus! A participação desse importante personagem no mistério da encarnação é ancorada em Maria e guiada pelos Anjos para que não tenha medo de guiar o Filho de Deus e ser guiado pela instrução divina.
A família de Zacarias, os Reis Magos, Simeão e Ana são personagens, de acordo com os evangelistas, considerados como coadjuvantes. Eles têm em comum a extraordinária missão de apontar, com palavras e gestos, o Salvador. Que missão belíssima: ver e anunciar! O que os olhos maravilhados viram, a boca alegremente anunciou (cf. 1Jo 1,3). A esse terceiro grupo de personagens, devemos citar acrescentando: os pastores de Belém, os sacerdotes do templo e os escribas da corte, o rei Herodes e a lista vai crescendo… Todas essas pessoas estão envolvidas no grande acontecimento da história, tão esperado e desejado.
Os sinais luminosos que nos ajudam a esperar
Ao lado das liturgias próprias do Advento, alguns sinais poderão nos ajudar a alargar ainda mais a compreensão do mistério da encarnação do Filho de Deus. Entre tantos sinais, recordemos apenas três ao mesmo tempo em que destacaremos o seu significado inerente ao Natal do Senhor.
Coroa do Advento. A coroa, em forma circular, indicando a circularidade da vida e o retorno contínuo, consta de quatro velas adornadas por ramos verdes, a cor da vida nova. Cada uma das velas com a sua cor apropriada deve ser acessa nos Domingos, indicando quantos ainda faltam para o Natal. A coroa do Advento é o símbolo da peregrinação na esperança e na vigilância: o Filho de Deus caminha conosco.
Presépio. O sinal do presépio é o que mais contém elementos bíblicos. Quer apresentar a cena do nascimento de Jesus em detalhes visíveis. Com arte, beleza, simplicidade e bom gosto, o presépio é montado antes do dia 08 de dezembro e permanece exposto até após a Solenidade da Epifania. As peças do presépio permitem, especialmente às crianças, construir na mente e no coração os acontecimentos históricos do Natal, ao mesmo tempo em que nos enche de esperança. É diante do Presépio que rezamos a novena de Natal e as orações em família antes da ceia.
Árvore de Natal. Com luzes e outros detalhes festivos, a árvore é um sinal mais popular. Montá-la costuma ser uma tarefa que envolve as crianças. Sob o verde da árvore e suas luzes, depositamos esperança de dias melhores, com harmonia, saúde, fé e livramento de todo mal. A árvore recorda a vida: dela é que se constroem a manjedoura e a cruz. Por isso, junto à árvore colocamos presentes que nos recordam o grande dom de Deus: seu amor salvífico.
Esperando, espero no Senhor
Tomando essa frase do Sl 39,2 e associando-a ao tempo do Advento, despertamo-nos para o sentido especial da esperança cristã! O Espírito Santo continua guiando-nos nos passos da história rumo à vinda do Senhor que virá “nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26) e deseja encontrar a fé acessa sobre a terra (cf. Lc 8,18).
A espera suscitada na espiritualidade do Advento possibilita ao fiel percorrer um caminho interior, proporcionando ocasião de repensar suas atitudes e almejar um caminho novo, iluminado pela Palavra, animado pelo Espírito, guiado pela fé em Jesus Cristo. Esperar o Senhor é um passo na conversão contínua à qual todos os batizados são chamados.
Com esperança, celebramos o Deus-conosco. O Natal nos restaura interiormente. Visitando a manjedoura recobramos a força da fé e seguimos a caminhada, animados e fortalecidos. Deus se fez Menino revelando-nos sua presença em cada etapa da nossa vida, conforme sua promessa: “não vos deixarei órfãos, eu virei a vós!” (Jo 14,18).
Na proximidade da celebração do Natal, outra vez, caminhemos esperançosos!
Pe. Francisco Valter Lopes, sjc