A vocação é um dom de Deus que chama o homem a viver e realizar o seu projeto de amor. Todo ser humano é chamado pelo Senhor à existência, mas desde a eternidade todas as criaturas já existem no coração amoroso do Criador, como é descrito no texto bíblico a respeito da vocação do Profeta Jeremias: “Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci. Antes que você fosse dado à luz eu o consagrei para fazer de você profeta das nações” (Jr 1, 4-5). Neste sentido, a vocação humana consiste em corresponder e realizar esse plano de Deus, que é manifestado, sobretudo, nos dons que cada um recebe e que, portanto, tem por missão fazer multiplicar.
A vocação humana se manifesta de diversas formas, mas num primeiro momento pode ser contemplada em duas dimensões, a dimensão pessoal e a dimensão social. Pessoal no sentido de ouvir a voz do Senhor que fala ao coração do homem individualmente e chama aqueles que Ele quer; social no sentido de desenvolver os talentos e dons pessoais e colocar a serviço dos outros e da comunidade. No intuito de refletir sobre esses aspectos da vocação, o mês de agosto, para a Igreja no Brasil, é dedicado a reflexão, ação e oração sobre a realidade vocacional e suas diversas especificidades. Para o ano de 2022, a Igreja apresenta como tema: “Cristo Vive! Somos suas Testemunhas” e como lema: “Eu vi o Senhor” (Jo 20, 18).
Vocação é ouvir a voz de Deus que fala ao coração do homem e o chama para uma missão que pouco a pouco vai se revelando com a vivência do dia a dia. No entanto, a vocação primeira a qual o homem é chamado é à vida, dela decorrem todas as outras. Deus criou o homem e a mulher e os amou desde sempre e lhes deu uma missão, portanto, a existência humana não é vazia de sentido, mas, pelo contrário, cada um é único diante de Deus e amado de forma incondicional, e a resposta de quem foi chamado e amado deve ser sempre a da defesa incondicional da vida desde a concepção até o fim natural, compreendendo-a sempre como sagrada e inviolável, um dom de Deus confiado aos homens.
A vida é a vocação natural do homem, porém, existe uma outra vocação que leva a vida humana a plenitude, que é a vocação cristã. Nesta, o Senhor convida o ser humano a comunhão com Ele. O vocacionado, portanto, é chamado a se realizar plenamente em Deus e a Ele se consagrar, como ensina o Servo de Deus, Pe. José Gumercindo, na oração matutina de meditação, presente no Devocionário da Sociedade Joseleitos de Cristo: “Adoramos ao Pai, consagrando-Lhe a criação e nosso corpo; adoramos ao Filho, consagrando-Lhe nossa inteligência e nossa razão; adoramos ao Espírito Santo, consagrando-Lhe nosso coração e nossa vontade”. Sendo assim, aquele que é chamado, deve ter consciência de que é criatura de Deus, e, por isso, para se realizar, deve viver Nele.
Depois de colocar no coração do homem o seu amor, o vocacionado é convidado a iniciar um caminho com Jesus e os irmãos numa comunidade de fé, como batizado, pois a vocação cristã se realiza de forma plena quando está a serviço da edificação da Igreja, Povo de Deus, Corpo de Cristo. No caminho, o cristão vai tomando consciência do chamado a participar ativamente da Igreja e contribuir com o crescimento das comunidades rumo à Terra Prometida. Assumir a vocação cristã é doar-se pelo evangelho e estar junto a Jesus Cristo em sua missão salvífica. Esta vocação é descoberta, alimentada e vivida na comunidade, nas pastorais, nos movimentos, na meditação da Palavra de Deus, tanto individual, como na vida familiar e comunitariamente.
Na Igreja, todos são chamados a cumprir uma missão particular, de acordo com o carisma e os dons que recebeu e que não são dados para proveito próprio, mas para servir a comunidade, dessa forma, trata-se das vocações específicas. Para muitos, a vocação cristã se realizará no matrimônio, onde o casal pode colaborar com Deus na obra da criação. Mas também esta vocação cristã se manifesta nos mais variados ministérios, que homens e mulheres não ordenados podem assumir, como a catequese, a Palavra de Deus, a comunhão eucarística, o consolo aos doentes e encarcerados, a família e muitos outros.
É interessante perceber que, para dirigir todos os outros ministérios, o Senhor escolheu alguns para “serem apóstolos, outros serem profetas, outros evangelistas, outros pastores e mestres. Ele assim fez para preparar os santos na obra do ministério, para edificação do Corpo de Cristo” (Ef 4, 11-12). Neste sentido, trata-se dos ministérios ordenados, que tem por missão dirigir e santificar o povo de Deus. Quem ascende a esse ministério, assim o faz, pelo sacramento da Ordem, que são exercidos pelos Bispos, Presbíteros e Diáconos.
Dentro destas vocações específicas, que estão a serviço da edificação da Igreja de Cristo, ocupam um lugar singular a vida religiosa e consagrada. A vocação religiosa é vivenciada por homens e mulheres que dizem um sim e generoso a Deus e entregam suas vidas e decidem livremente viver a radicalidade do batismo e seguir a Jesus Cristo por meio dos Conselhos Evangélicos, ou seja, os votos de Castidade, Pobreza e Obediência. Este não é um processo que ocorre da noite para o dia, mas há uma caminhada intensa para que se possa adquirir todo o conhecimento intelectual e espiritual, para se chegar à chamada consagração, na prática em um carisma ou mesmo na vida sacerdotal.
A Congregação Religiosa Sociedade Joseleitos de Cristo, também ocupa um lugar e uma missão específica na vida religiosa, o artigo primeiro das Constituições afirma que “A Sociedade Joseleitos de Cristo, tendo em vista, acima de tudo, a glória do Deus Uno e Trino, congrega homens no seio da Igreja, chamados a seguir Jesus Cristo casto, pobre e obediente, do modo como viveu este ideal o seu Fundador, Pe. José Gumercindo Santos”.
Ainda se tratando do Carisma Joseleito, o próprio fundador em Carta Circular de nº 1/73, afirma: “Se, porém, quereis saber qual seja o carisma de nossa Sociedade, descobrireis sem dificuldade, na sua organização e vida, que ela nasceu para dar à Igreja, muitos e bons padres. Assim tem sido desde os primórdios de sua fundação”. Portanto, a Sociedade Joseleitos de Cristo tem por missão despertar e atrair vocações para o serviço de Deus na Igreja, para que, como sacerdotes ou irmãos que deixaram tudo, possam se dedicar a evangelização dos povos, especialmente nos locais mais carentes.
Enfim, a vocação é um dom precioso que o Bom Deus concede ao homem, e cada um tem um jeito próprio de perceber o chamado individual em seu coração. É natural que aquele que foi chamado se depare, num primeiro momento, com medos e incertezas, mas a vontade de Deus é irresistível e aquele que foi chamado deve Nele confiar, pois se o Senhor chamou, Ele também capacita e dá as ferramentas necessárias para que a missão seja cumprida. E este processo de discernimento vocacional não se faz somente na individualidade, mas todos são chamados a colaborar com os jovens nesta descoberta. É de suma importância trabalho dos catequistas nas comunidades, a pastoral vocacional, os coroinhas, a oração dos fiéis e as famílias engajadas e orantes, pois é na família o lugar privilegiado onde germinam as vocações.
Pe. Valderí Tavares da Silva, sjc
Ir. Rodrigo Ferreira Nascimento, sjc